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As coisas de que eu gosto! e as outras...

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30.11.20

Lenda do Rio Sever @ Lendas de Portugal

Miluem

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Lenda do Rio Sever

 


Versão literária, com proveniência desconhecida, publicada por Possidónio Mateus Laranjo Coelho (1967), reproduzida por Alexandre de Carvalho Costa (1982) e por Ruy Ventura (2005) – Contos e Lendas da Serra de São Mamede, antologia breve, Almada, Associação de Solidariedade Social dos Professores: 75.

 


Em distante e já remota época, numeroso e escolhido cortejo de damas e cavaleiros, de longada para as bandas de Castela, resolve descansar das fadigas da jornada junto às margens do rio e no sítio onde mais fácil se torna a passagem a vau.

 

Ao pretender, porém, recomeçar a viagem, quando as damas se preparavam para compor os seus vestidos e alisar os cabelos desgrenhados pelos solavancos da travessia através dos ásperos córregos e do pedregoso trilho dos rústicos caminhos viram, com desconsolada surpresa, que em nenhuma das encouradas arcas de bagagem se encontrava um espelho, objecto tão necessário às mais novas e tafús e que haviam esquecido na azáfama confusa da partida.

 

Compreender-se-á o desespero em que esse facto lançaria as entristecidas e contrariadas damas, tão ávidas de bem parecer e para as quais o espelho é o mais dilecto, necessário e indispensável companheiro.

 

Diz-se mesmo que em algumas delas tal contratempo se denunciava por mal contidas e furtivas lágrimas que não passaram despercebidas ao olhar atento e enamorado de um gentil moço e garboso cavaleiro da comitiva.

 

Pressuroso e cortês acudiu este procurando remediar a contrariedade das aflitas damas, lembrando-lhes que não havia, em verdade, motivo para se entristecerem pois que, para substituir o espelho tinham elas ali bem perto um belo rio de se ver.


Para comemorar a gentil lembrança do moço fidalgo e como prémio e agradecida homenagem à sua tão feliz e oportuna ideia puseram, então, as damas ao sítio onde haviam estado a pentear-se o lindo e romântico nome de “Porto de Cavaleiros” […].

 

Foto: Wikipédia - Por Caligatus - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=54056797