A fada mouca | Contos Populares Alentejanos
A fada mouca
Era uma vez uma velhinha muito mouca, mais mouca que a minha avó!
Esta velhinha foi um dia ao campo buscar um feixe de lenha e encontrou um rapazito com um cesto no braço, mas como era muito curiosa perguntou-lhe:
“Donde vindes, rapazinho?”
“Venho de Inglaterra.”
“Debaixo da terra?! Oh! louvado seja Deus! E o que trazeis nessa cestinha?”
“Um presunto.”
“Um defunto! Oh! louvado seja Deus! E o que trazeis na vossa mão?”
“Uma cana verde.”
“Uma canela dele! Oh! louvado seja Deus!”
O rapaz pôs-se a rir dos disparates que dizia a mouca, pelo que ela ficou muito zangada e lhe disse:
“Visto que te ris de mim, eu te fado para que em toda a tua vida não possas dizer senão:
Cócórócó que estou nos ovos!”
E assim sucedeu!
Até que o rapaz, desgostoso de não poder dizer mais palavra nenhuma, se matou!
E seja Deus louvado,
Está meu conto acabado.
Créditos:
Fonte:
Colecção Estudos e documentos 10
António Thomaz Pires
Contos populares alentejanos recolhidos da tradição oral, Coletânea, edição crítica e introdução de Mário F. Lages, 2.a edição aumentada, Lisboa CEPCEP 2004, Universidade Católica portuguesa
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