Há em Freixeda, concelho de Mirandela, um monte com uma fraga, onde dizem que se ouve chorar uma menina nas noites de lua cheia, ao mesmo tento que penteia os seus cabelos com um pente de ouro fino.
Nesse sítio havia antigamente umas minas de ouro, que eram exploradas pelos mouros. Por isso eles tinham muito ouro. E quando se deu a tomada da Península pelos cristãos, esconderam-no todo num poço que existe na dita fraga, com intenção de voltarem mais tarde para o levarem.
Diz-se também que deixaram ainda no local um soldado com a família para montar guarda ao tesouro, mas como os cristãos eram em maior número, o soldado e a família foram mortos, ficando só a donzela moura que se escondeu no poço, onde está encantada, e só aparece em certas ocasiões para chorar a sua triste sorte.
Esta menina transforma-se numa feia serpente que durante o dia descansa na entrada do poço. E para lhe quebrar este encanto era preciso ir lá beijar a serpente, só que ninguém ainda teve coragem para tanto.
Source: PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.275
Year: 1999 - Place of collection: Freixeda, MIRANDELA, BRAGANÇA
Informant: Mabilde da Conceição Afonso (F), 47 y.o.,
Narrative - When: 20 Century, Belief: Unsure / Uncommitted.
Créditos:
Fonte: CEAO Centro de Estudos Ataíde Oliveira / Lendarium.org
O Museu da Guarda fundado em 1940 apresenta um acervo constituído por coleções de arqueologia, numismática, escultura sacra dos séculos XIII a XVIII, pintura sacra dos séculos XVI a XVIII e armaria dos séculos XVII a XX. Encontramos ainda cerâmica, fotografia, etnografia regional, pintura e desenho de finais do século XIX e 1ª metade do século XX. Recentemente tem desenvolvido ação na área da arte contemporânea e ampliado significativamente essa coleção.
O Museu da Guarda está instalado no antigo Seminário Episcopal construído em 1601 por D. Nuno de Noronha. Do conjunto fazem parte o Paço Episcopal, o Seminário e a Igreja, formando uma planta em U, com a Igreja ao centro. O conjunto insere-se no Maneirismo, construído no século XVII, com exceção da igreja, do século XIX, mais concretamente de 1887.
O Museu da Guarda é herdeiro do Museu Regional da Guarda fundado em 1940, sob a dependência da Câmara Municipal, no âmbito das Comemorações Centenárias. Em 1983 iniciaram-se obras de remodelação do edifício e elaborou-se um plano museológico para a apresentação da coleção permanente. Abriu ao público em junho de 1985 sob a designação de Museu da Guarda. Atualmente é tutelado pela Câmara Municipal da Guarda.
Das obras que integram as suas coleções merecem particular destaque na arqueologia, duas espadas da idade do Bronze, uma fíbula anular hispânica do séculos V/VI a. C., a coleção de numismática romana e um torso Imperial Romano do século II; na escultura, um granito policromado do século XIII, representando N.ª Sr.ª da Consolação, o Altar da Anunciação século XVI e os espaldares de cadeiral dos séculos XVI e XVIII; na pintura, desenhos de Carlos Reis, António Carneiro, óleos de Columbano, Eduarda Lapa, Almeida e Silva e João Vaz; as coleções etnográficas permitem uma leitura das principais atividades económicas da região e a coleção de armas que inclui peças do século XVII ao XX, que documentam a evolução da armaria.
Que as feiticeiras se reúnem de noite para as suas tropelias e divagações festivas, todos o sabem, mas porque é que elas têm uma predileção pelo Monte do Crasto, isso é que ninguém consegue adivinhar. O certo é que por ali são muitas as vezes em que as vadias das feiticeiras incomodam muitos dos caminhantes.
Os afazeres do campo ou dos ofícios nem sempre terminavam à luz do dia, obrigando a percorrer os caminhos mais esconsos e escuros, envolvidos pelo barulho da floresta viva. As feiticeiras preferiam a escuridão, querendo-a só para si, infligindo por isso toda a espécie de males aos que se aventuravam pela noite nos locais dos seus encontros. No Monte do Crasto havia um cruzamento que todos temiam percorrer de noite. Ali aconteciam coisas do diabo que ninguém queria entender, mas somente evitar.
Conta-se que um homem estava a trabalhar ali perto, na Quinta do Pinho. Era ele pedreiro e encontrava-se a reparar umas paredes que tinham urgência de obras. Era essa urgência que o tinha obrigado a trabalhar pela noite dentro. Enquanto picava e assentava a pedra, o som do cinzel e do maço alongava-se na noite, perturbando o silêncio da mata. A dada altura começou a ouvir umas vozes muito estranhas:
- Ah! Seu malandro..., seu este..., seu aquele... A trabalhar pela noite dentro?
O homem nem respondeu, pois não via ninguém a quem culpar aquelas vozes provocadoras. Mas, alongando um pouco o olhar, viu vir na sua direção uma porca com porquinhos... Largando o maço, foi ao encontro dos porcos, na tentativa de os agarrar. Ora pega num, ora pega noutro..., agarra aqui, agarra ali..., mas os porcos pareciam estar a gozar com ele, pois não os conseguia segurar. Até que voltou a ouvir as vozes misteriosas:
-Vai-te embora daqui! Não te fazemos mal, porque te conhecemos, senão já não te ias embora!
Fixando os olhos apenas no caminho de regresso a casa, o pobre do homem não deixava de dizer, baixinho, para si. — As feiticeiras deram comigo! — E sem olhar para trás correu para casa, temendo pela vida.
A mesma sorte não tiveram o Caetano e o Tavares!
O Caetano trabalhava na casa da D. Augusta como jornaleiro. Um dia a patroa mandou-o para Nogueira, para uma Quinta que lá tinha, a tratar das sementeiras. O trabalho botou-se para muito tarde, regressando a casa já noite feita e bem escura. Quando passava ao Crasto saltaram-lhe ao caminho um bando de feiticeiras, que depois de o rodearem, soltando altas gargalhadas e dando grandes pulos, pegaram nele e meteram-no numa corte de gado, deixando-o todo nu! Tolhido pelo medo, e temendo as feiticeiras, o Caetano permaneceu ali toda a noite, no meio dos animais.
De manhã cedo foi o dono da corte soltar os animais para os campos e encontrou aquele homem! Vendo-o nu, e de olhar perdido, bem tentou o senhor ter uma resposta para a pergunta sobre o que lhe acontecera, mas o Caetano nada dizia: estava mudo!
-Isto é coisa de feiticeiras! - Concluiu o dono da corte, apressando-se a ir procurar agasalho para o pobre do Caetano.
Já quanto ao Tavares, as coisas foram mais sérias. Naquela noite regressava ele de tocar bombo pelas festas e romarias, quando foi surpreendido pelas feiticeiras. As feiticeiras rasgaram-lhe a roupa e depois de o lançarem nas silvas, levaram-no para cima de um penedo, em Boca, na freguesia de Moreira. O povo chamava a esse penedo, e parece com razão, o penedo das feiticeiras. Com as artes do diabo e a força do mafarrico, colocaram-no bem no cimo do penedo da Boca, deixando-o aí sozinho e mal tratado. Diz-se que foi preciso uma escada para descer o pobre do Tavares de cima do penedo. Mesmo assim a empresa revelou-se difícil, pois o homem nem se mexia com o medo da véspera.
Muitas outras coisas dizem daquele cruzamento do Monte de Crasto, de tal forma que, sempre que podem, os moradores da zona evitam atravessá-lo depois da noite cair.