Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

As coisas de que eu gosto! e as outras...

Bem-vind' ao meu espaço! Sou uma colectora de momentos e saberes.

As coisas de que eu gosto! e as outras...

07.01.22

Conto dos passarinhos verdes | Contos Populares Alentejanos

Miluem

Periquito-rico_(Brotogeris_tirica).jpg

Conto dos passarinhos verdes

 

Havia uma princesa e era por costume todos os dias ir pen￾tear-se numa janela que deitava para a varanda.

Um dia, estava penteando-se, veio um passarinho verde, levou-lhe a fita do cabelo. A pequena ficou muito triste. No dia seguinte, tornou a ir pentear--se ao mesmo sítio. Veio o passarinho e levou-lhe o pente. No outro dia, estava-se penteando, levou-lhe o penteador. A princesa tão cismática por tais coisas caiu de cama e nunca mais falou.

O rei mandou deitar um pregão, que daria uma tença a quem fosse capaz de fazer falar a princesa. Uma velha teve por notícia que o rei dava uma tença e disse para uma filha:

“Ó filha, eu vou ver se faço rir e falar a princesa.”

“Mãe, não vá; vossemecê está doida; entre tantas pessoas ninguém a faz falar, só vossemecê sendo velha imagina tal; anoutece￾lhe no caminho e vai passar alguns trabalhos.”

“Pois, filha, já me vou meter a caminho.” Marchou a velha.

Já cansada de andar, anoiteceu-lhe no caminho. A mulher ficou muito assustada ao ouvir um grande barulho; olha para o lado e quando vê um bando de passarinhos verdes e abrir-se uma pedra; eles entraram e a velha entrou também atrás deles.

Chegou lá abaixo, era um grande palácio; viu uma mesa com todas as iguarias, viu um espeto ao lume sem ninguém lhe mexer; a velha foi a mexer no espeto e levou com ele na cara. Ela o que fez, meteu-se atrás da porta.

Passado uma hora viu ela um passarinho verde banhar-se numa bacia, depois transformou-se num príncipe.

Chegou ao pé duma cómoda, abriu um gavetão e disse:

“Fita, pente, penteador, quem me dera ver o meu lindo amor.”

Depois sentou-se à mesa, ceou, depois foi-se deitar. A velha sempre atrás da porta.

De manhã muito cedo, levantou-se o príncipe, tornou-se a banhar numa bacia, ficou num passarinho, depois vieram os outros companheiros e todos saíram. A velha saiu atrás deles. Seguiu a viagem a casa da princesa. Chegou à porta do palácio. Os criados não a deixavam entrar. Tanto teimou até que conseguiu.

Chegou ao quarto, perguntou à princesa como estava, a qual não lhe respondia. Começou a dizer assim:

“Anoiteceu-me no caminho, depois ouvi um barulho, vi um rancho de passarinhos verdes...”

A princesa assim que ouviu falar em passarinhos verdes disse logo:

“Conta velha”; e levantou-se da cama.

Tudo ficou admirado no palácio, de tantas pessoas ninguém fez falar a princesa senão a velha. A velha foi contando tudo e a princesa pediu ao pai que a deixasse ir com a velha.

Foi, chegou ao sítio, sentaram-se em cima da pedra, viram os passarinhos verdes e elas entraram com eles e esconderam-se detrás da porta. Veio o passarinho, banhou-se na bacia, transformou-se num príncipe, chegou à cómoda, abriu o gavetão e disse:

“Fita, pente, penteador, quem me dera ver o meu lindo amor.”

A princesa saiu detrás da porta:

“Aqui estou eu.”

Houve grande festa em palácio, casaram e a velha ficou para aia e com muito dinheiro, e escreveu à filha contando-lhe o passado.

 

Créditos:

Fonte: “Contos populares alemtejanos”, Revista do Minho, 7 (14) 1891, pp. 61-62.. Com o nº XIV no original.

Foto: Por Lauro Sirgado - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=33025997