Mora @ Histórias e Contos - Corre, corre cabacinha
Corre, corre cabacinha
Era uma vez uma velhinha. Bem, coitadita, na' tinha mais ninguém, vivia sozinha no meio de uma floresta.
Mas, noutros tempos, tinha tido uma filha. A filha entretanto cresceu, fez-se mulher, fez-se uma senhora, foi pra Lisboa. Lá, arranjou um rapaz pa' namorar e tratou do casamento.
E a velhinha sempre lá a viver na floresta. Um belo dia, chegou-lhe a filha à porta (um grande automóvel, tudo muito preparado) pa' convidar a mãe pò casamento. E disse-lhe a mãe:
– Ó filha! Como é que tu queres que eu vá pò casamento, se eu vivo aqui no meio de uma floresta destas?! Atão, os lobos comem-me no caminho!
Filha – Na' comem! Ó mãe na' tenhas medo, que os lobos na' te comem! Vá!
Bem, assim foi. A velhota lá foi. Chegou assim a um cerrozinho, apareceu um lobo com os dentes arreganhados!
Lobo – Ai, velha! Que eu agora como-te!
A velha, esperta, (as velhas são todas espertas) disse pra ele:
– Olha! Olha lobo, vamos fazer aqui um contrato. Na' me comas! Que eu agora vou ao casamento da minha filha, como lá muita carne e muito bolo e venho de lá mais gorda! Atão, depois tu comes-me.
Lobo – 'Tá bem! – O lobo muito guloso. – 'Tá certo.
Lá foi a velhinha. Ora, um grande casamento: comeu, bebeu, comeu, bebeu... Passou três dias naquela vida... A velha já não parecia a mesma! Nisto aproximou-se a hora de ela se ir embora e começou a chorar! Disse-lhe a filha:
– Ó mãe, tu 'tás a chorar de quê?
Velhinha – Ora filha... Atão eu combinei com o lobo, quando vinha pra cá, que vinha ao teu casamento e agora à volta, pra lá, é que ele me comia que eu 'tava mais gorda! E agora ele 'tá lá.
Filha – Olha, na' tenha medo! Na' há problema. Tome lá esta cabaça(4). Quando for lá quase a chegar, meta-se dentro da cabaça. Você sabe o que é que há-de fazer!
Tal e qual! Quando ia lá a chegar ao cerrozinho lá estava o lobo. A velhota pensou "bem, é aqui que o lobo deve de estar". Lá se enrolou toda dentro da cabacinha, quietinha dentro da cabacinha, e lá foi a cabacinha a rebolar. Parou-a o lobo! Disse o lobo:
– Ó cabacinha! Tu não viste p'aí uma velhinha?!
Cabaça – Eu na' vi cá nem velhinha, nem velhão! Rebola cabacinha, rebola cabação! Leva- -me à minha casinha, leva-me ao meu casão! E tu lobo ficaste aí feito gulosão, que na' meteste o dentão!»
E pronto. Assim o enganou!
nome: Maria Augusta, ano nascimento: 1932
freguesia: Mora, concelho: Mora
distrito: Évora, data de recolha: 2007
https://www.memoriamedia.net/index.php/maria-augusta