Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

As coisas de que eu gosto! e as outras...

Bem-vind' ao meu espaço! Sou uma colectora de momentos e saberes.

As coisas de que eu gosto! e as outras...

16.09.21

Santana, I.Madeira @ Lendas de Portugal - A lenda do Pico Cidrão

Miluem

17868295Master.jpg

 

A lenda do Pico Cidrão

 

Nas proximidades do Pico Ruivo existe o Pico Cidrão.

 

Zona de fauna descendente dos primitivos javalis africanos, que os Donatários mandaram trazer para ali, com predominância para as cabras e o chamado «porco bravo, que por ali escadeiam sob a vigilância dos pastores.

 

«Diz a lenda que, uma vez, por aqueles despenhadeiros andava um Pastor com o seu cão, na faina de colher as cabras e os porcos que se refugiavam nas zonas de mais perigoso acesso.

 

Num salto infeliz o pobre cão resvalou e foi rolando e desfazendo-se pelas escarpas da montanha.

 

Então o homem, num acesso de raiva, gritou que mais valia ter dado a alma ao diabo que perder aquele cão...

 

Passou o tempo.

 

Morreu o pastor o desde então, diz o Povo, nunca mais deixou de se ouvir o uivo do cão e a praga do pastor misturados num som rouquenho que atemoriza as gentes.


Na Casa de Abrigo, no alto do Pico Ruivo, quando os visitantes se aconchegam ao calor da lareira e cá fora o vento e a chuva formam um conserto infernal, é frequente ouvir-se o som rouquenho que afirmam ser o uivar do cão que se despenhou e a praga do pastor que antes quisera dar a alma ao Demo...

 

— É o Bicho Cidrão! É o Bicho Cidrão!

 

E os que ouvem aquele som estranho, aterrorizados, benzem-se, rezando o credo em cruz, para afastar esse espírito maligno do Bicho Cidrão, que vagueia pelo mundo para perdição das almas... »

 


Visconde do Porto da Cruz, in «Folclore Madeirense» — pág. 34.

 

Source: PIO, Manuel Ferreira O Concelho de Santana - Esboço Histórico Funchal, sem editora, 1974 , p.166
Place of collection: SANTANA, ILHA DA MADEIRA (MADEIRA)
Narrative, When: 20 Century, Belief: Unsure / Uncommitted

Foto: https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/pico-arieiro-pico-do-cidrao-pico-de-gato-pico-das-torres-pico-ruibo-illa-de-madeira-portugal-27974594/photo-17868295

 

12.09.21

Sortelha, Sabugal @ Lendas de Portugal - A lenda do Beijo Eterno

Miluem

SortelhaCastle.jpg

Foto: Wikipédia - Pedro Dias

 

A lenda do Beijo Eterno

 

Aqui se conta a história da maldição que uma mãe lançou sobre o amor proibido vivido pela sua filha. Em Sortelha, ainda hoje podemos ver os dois amantes.

 

Em tempos que já lá vão, vivia no Castelo de Sortelha, entre montes e fraguedos, um alcaide cristão casado com uma dama que se dizia possuidora de artes de magia. Se para o bem ou para o mal, não se sabe, porque há sempre, nestas histórias, retoques que nos confundem.

 

Tinha o casal uma filha donzela de cuja formosura se falava em toda a região. Sem falta de pretendentes, estava já prometida em casamento a outro alcaide da zona.

 

Os tempos eram de guerra e estava o Castelo cercado pelos mouros. Tempos difíceis.

 

A jovem fenecia entre muralhas, vagueando perdida nos seus pensamentos. Aos poucos, entre idas e vindas, começou a olhar com atenção o príncipe mouro. E assim se apaixonou.

 

E, porque nestas coisas de guerra e religião, não param de bater os corações, também do outro lado da muralha, o cavaleiro já admirava a linda figura que o atraía entre as voltas do cerco.

 

Pouco a pouco, e porque, em segredo, outros os ajudavam, conseguiram trocas mensagens e presentes, amenizando a triste situação em que se encontravam.

 

Mas a mãe da donzela, fada ou bruxa, vigiava. Assim, soube que certa noite, os apaixonados se iriam encontrar pela primeira vez junto à porta da muralha.

 

Segue a mãe a sua filha e, destroçada, encontra-a junto do amado, beijando-se. Ergue então o braço como se o abatesse sobre o casal enlaçado. E este desaparece, deixando apensa no local dois penedos.

 

Desaparecido o chefe dos mouros, estes destroçaram, retirando o cerco ao castelo. E o alcaide, desgostoso pela perda da filha, retirou também do recinto com um grupo de gente fiel, fundando uma nova povoação no fundo do vale.

 

DSC_0292.jpg

 

Aos dois penedos que ficaram, como memória desta história, chama ainda o povo, as Rochas do Beijo Eterno.

 

Nas Rochas do Beijo Eterno

No Castelo de Sortelha

 Cristã e mouro se beijam

Por sortilégio da velha…

 

 

Fonte: https://portugaldelesales.pt/lenda-beijo-eterno-sabugal/

2a Foto: 

Guia Para Visitar A Aldeia Histórica de Sortelha - https://adescobertapelomundo.blogspot.com/2020/08/a-aldeia-historica-de-sortelha.html?m=1

 

09.09.21

Vila do Outeiro, Bragança @ Lendas de Portugal - Cristo suou sangue

Miluem

BasilicaOuteiro-CMBraganca-d.jpg

Basílica Santo Cristo de Outeiro

 

Cristo suou sangue

 

A capela esteve lançada ao abandono, desprezada e ofendida, servindo até para os rebanhos da terra aí pernoitarem.

 

Nesta situação esteve cerca de 30 anos, durante as Guerras da Independência.

 

Significa que a Santíssima Imagem de Santo Cristo fora esquecida chegando-se mesmo a deixar de celebrar missas, tendo ainda sido roubados as adornos cerimoniais, deixando o crucifixo cheio de pó e de aranhas.

 

unnamed.jpg

 

A partir de 26 de Abril de 1698 tudo viria a mudar.

 

Uma visão de um padre Carmelita, de nome Fr. Luís de Sousa Joseph, durante celebração da Eucaristia, iria reactivar a devoção ao Cristo abandonado naquela pequena Capela.

 

O Padre Carmelita viu o Cristo da Capelinha «Suar gotas de sangue e água», fenómeno observado ainda por um irmão do Frei Luís de Sousa, de nome António Moreira da Cunha.

 

O milagre seria ainda visto por pessoas da Vila de Outeiro que participavam naquela celebração.

 

Esteve oito dias a pingar sobre as toalhas do altar.

 

A notícia brevemente se espalhou por toda a Diocese de Miranda chegando a Braga e às regiões da Galiza e de Castela e Leão.

 

Surgiu então um acto de emenda ao Santo Cristo de Outeiro, tendo o mesmo lugar a 3 de Maio desse mesmo ano de 1698.

 

Juntou-se em Outeiro uma grande multidão para participar na Eucaristia, seguindo-se uma novena de reparação.

 

Estiveram presentes os cónegos do Bispado de Miranda e doutores de Salamanca e Coimbra para autenticar o milagre.

 

Foi a partir daí que se resolveu lançar uma Confraria, começando por se tomar conta dos nomes de todos quantos quisessem pertencer à irmandade com esmolas e outras ofertas.

 

A devoção ao Santo Cristo de Outeiro aumentava de dia para dia, fazendo os fiéis romarias constantes à "Capela dos Milagres".

 

Foi tal o fluxo de romeiros, que se tornou necessário começar a pensar na construção de um Santuário com grandes dimensões, para onde deveria ser transferido o Crucifixo Milagroso para aí ser adorado e venerado pelos fiéis.

 

Fonte: http://aldeiaouteiro.blogspot.com

Fotos: 

https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/basilica-santo-cristo-de-outeiro

http://www.rotaterrafria.com/pages/213/?geo_article_id=4762

 

05.09.21

Cernache do Bonjardim @ Lendas de Portugal - A Aparição da Nossa Senhora dos Milagres de Cernache

Miluem

59286084_2220036604929072_8046738838145466368_n.jpg

 

A Aparição da Nossa Senhora dos Milagres de Cernache

 

Na egreja de Cernachee ha uma imagem, que tem n'um dos braços, ao collo, o menino de Deus, muito per feita e de rara formosura, que representa Santa Maria, sob a invocação de Nossa Senhora da Assumpção orago da freguezia, no culto que se lhe presta sob a invocacão de Nossa Senhora dos Milagres.

 

Essa imagem, segundo reza a tradicção e nos é transmittida por Fr. Agostinho de Santa Maria, deu entrada milagrosamente naquella egreja, pois que vindo das partes de Lisboa em uma mula para Coimbra, a mulla se encaminhou para a egreja e junto d'ella parou, nau se conseguindo. por mais diligencias que se fizeram, que desse mais um passo.

 

À vista deste milagre, e a pedido do povo “ a imagem deu entrada na egreja que se entendeu ella buscava” e ahi, na parede do arco cruzeiro da capella mor, lado esquerdo. se mandou construir um altar com seu levantado throno para n'eIle ser collocada, como de facto o foi.

 

O povo, sempre imaginoso, pinta em seus ingenuos cantares, e com alegres cores, a apparicão de Nossa Senhora dos Milagres, e cuida, confiado em sua não desmentida crença. que ella, como mãe carinhosa e desvelada, nunca lhe faltará todas as vezes que lhe dirija com sincera e verdadeira devoção.

 

Analvsando esta lenda julgamos bem interpretal-a, e achar-lhe o seu verdadeiro significado, dizendo que a imagem de Nossa Senhora dos Milagres e a do menino de Deus foram feitas em Coimbra por encommenda do padroeiro leigo da egreja, que por esse tempo vivia em Lisboa, devendo por esta razão ter sahido d'esta para aquella cidade o dinheiro ou ordem de pagamento das esculpturas, e estas de Coimbra para Cernache, a cuja egreja decerto ellas se destinavam.

 

A pedra de Ançã de que as imagens são feitas, a proximidade d'aquele logar, cerca de dez kilometros ao norte de Coimbra, a excellencia da factura das esculpturas, que os artistas da mesma cidade podiam sobre todos os outros do paiz executar a primor, por ter sido em Coimbra no seculo XVI, onde essa arte attingiu a maior perfeicão, justificam o nosso parecer.

 

Por esta epocha, 1583, data que encima a capella de Nossa Senhora dos Milagres, o padroeiro secular era representado por D. Isabel da Silva, filha de D. João d'Athavde, á qual se deve, é de suppor, o altar de Nossa Senhora dos Milagres e competentes imagens: e a D. João Goncalves d'Athavde, 4.° Conde d'Athouguia, homem rico, se deve a ampliação da egreja em cujo frontespicio se via a data de 1594, epocha do seu acabamento

 

O 4.º titulo de Conde d'Athouguia foi concedido em 1588, por ter fallecido sem filhos, em 1581, o 3.° conde do mesmo titulo, D. Luiz d'Athavde, vice-rei da Índia.

 

95266469_101023234939066_3777512908942999552_n.jpg

 

Quanto ao culto de Nossa Senhora, mãe de Deus, sob a invocação de Nossa Senhora dos Milagres, é elIe muito antigo. e tanto assim, que em 08 de Outubro de 1721, o escrivão da Camara de Cernache, Christovão Camello Leitão, que não desconhecia a data que encinlava a capella de Nossa Senhora e a do frontespicio da egreja. Dizia; “que do anno da instituição da confraria de Nossa Senhora dos Milagres não havia memoria, constando porem da Bulla do Papa Paulo V, de 15 de fevereiro do anno de 1607, ser unida á Archiconfraria de S. Jeronvmo da cidade de Roma”.

 

Em presença d'estes (actos de presumir que a ins tituição da irmandade de Nossa Senhora dos Milagres seja bastante anterior a 1583 e por ventura quasi coeva da factura da primitiva egreja, em que a fé estava viva e os milagres de Santa Maria se repetiam, passando-se por este motivo, e desde logo, a celebrar o culto de Santa Maria sob duas invocações, uma a de Maria Santíssima, mãe de Deus, debaixo do titulo de sua triumphante Assumpção e outra, a de Nossa Senhora dos Milagres. que a nova imagem veiu definitivamente consagrar, separando-se assim os dois cultos em conformidade com as respectivas imagens.

 

- Cumprehendida pelo modo que expusemos a apparição de Nossa Senhora dos Milagres, o episodio não passa d'urn facto natural, mas a poesia religiosa, que o povo teceu em volta da formosa imagem, perde a graça. o encanto, o frescor das almas simples. sendo preferivel talvez que nós o tivéssemos deixado ticar na “ pureza; antiga” repetindo-lhe com o poeta : — que” n'ella durma ….sonhe. . . . e não acorde mais!....”.

 

http://www.freguesiadecernache.pt/conteudos.php?id_ct=13

Fotos:

https://m.facebook.com/festasdecernache/photos/a.2220034034929329/2220036601595739/?type=3&source=44

https://m.facebook.com/confraria.nsmilagres/photos/a.101023271605729/101023231605733/?type=3&source=44&ref=page_internal