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As coisas de que eu gosto! e as outras...

Bem-vind' ao meu espaço! Sou uma colectora de momentos e saberes.

As coisas de que eu gosto! e as outras...

31.01.21

Rios @ Lendas de Portugal - A lenda dos três rios

Miluem

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A lenda dos três rios

 

Nos tempos da criação, três grandes rios brotaram vigorosos, lá para os lados de Espanha.

Ainda sem bem se saberem orientar, o instinto guiou-os para oeste, na busca do Grande Mar, onde se reuniriam às águas que haveriam de cobrir (e descobrir) o planeta em inquietas epopeias.

Já a meio da viagem, cansados e enlameados, decidiram que pernoitariam juntos, tencionando prosseguir viagem aos primeiros alvores do amanhecer.

Douro, Tejo e Guadiana, eram esses os seus nomes, deitaram-se tarde nessa noite.

Reunidos à volta dos seus sonhos de alcançar o Grande Mar, ficaram em amigável cavaqueira até as suas águas repousarem as lamas no fundo, e o sono os vencer. E, entre outras conversas de jovens aventureiros, fizeram uma aposta: quem primeiro chegasse ao mar, seria o rio vencedor...

 

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O Tejo, o mais robusto dos três, não queria sequer considerar a sua derrota. Fingiu adormecer, mas mal sentiu os outros dois respirar pausadamente, num sono solto e profundo, deitou-se ao caminho. Escolheu o caminho mais fácil, entre planícies a perder de vista e criou lezírias maravilhosas. Acusando o cansaço, espreguiçava-se, indolente, e foi perdendo a pressa, convencido do seu certo avanço. Relaxou tanto, que se dava ao luxo de dormitar sonecas aqui e ali, ou ficar embevecido a admirar a paisagem que atravessava a azul, como um pincel de pintor exímio...

 

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Guadiana, que tentara manter-se semi-alerta na intenção de ser o primeiro a partir, acordou ainda o sol não tinha nascido. Não viu o Tejo e alarmou-se: agora teria que esforçar-se em dobro, correr, cortar caminho, mas, ah, ainda iria vencer!, pensou, determinado.
E se assim o pensou, melhor ainda o fez: resolveu rumar a sul, determinar fronteiras, fluir cauteloso mas firme, de encontro aos braços do mar aberto. Sem quase se deter para admirar as terras que percorria, seguia, diligente, na esperança da chegada em estuário de festejos...

 

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O Douro, o mais jovem e estouvado dos três, deixou-se dormir!...
Quando acordou, já o sol ia alto, precipitou-se na corrida, alarmado e ressentido com os seus parceiros de jornada.
Quase enfurecido, escolheu o que lhe pareceu o caminho mais rápido, ainda que acidentado e sinuoso: ficou-se pelo norte, mesmo ali, e rompeu escarpas, galgou ravinas, rasgou ventres pedregosos. Sem sequer se deter a ver por onde ia, cortou a torto e a direito, em contornos caprichosos...

 

Chegou ao mesmo tempo que o sol, ao ocidente prometido. O Grande Mar recebeu-o de braços abertos e o Sol dourou a apoteose da sua vitória em tons inesquecíveis.

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Foz do rio Douro | © IPTM, F. Piqueiro / Foto Engenho

 

Tejo e Guadiana, no limiar da foz que escolheram, só perceberam a derrota, quando o grito de vitória do jovem Douro ecoou nos ares do entardecer. E o Mar, tingido a ouro, estremeceu, transbordando de emoção...

 

Fonte: https://www.luso-poemas.net

Fotos:

https://ensina.rtp.pt/artigo/os-principais-rios-de-portugal/

http://www.visitterritorioscorticeiros.pt/project/parque-natural-tejo-internacional/

https://visitmertola.pt/patrimonio-natural-parque-natural-vale-do-guadiana/

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-mundial/portugal/alto-douro-vinhateiro/

 

30.01.21

Faro @ Lendas de Portugal - A Avó Velha Regressa

Miluem

A Avó Velha Regressa

 

Foi uma comadre, uma amiga minha, quase da mesma idade, que tinha uma filha para ir para a escola.

 

E então ela ia trabalhar e a miúda ia para a escola, até que um dia a professora mandou chamar a mãe que a menina não ia à escola.

 

E ela disse:

     -Eu vou trabalhar, e eu não sei se a minha filha vem para a escola ou não. Eu mando-a para a escola. Só que um dia eu procurei a razão porque ela não ia à escola, e ela disse que ali na estrada em que ela ia para a escola, onde havia umas alfarrobeiras, e então ela disse:

 

     -Oh mãe, eu vejo a avó velha debaixo da alfarrobeira! Que era a bisavó da mãe.

 

O pai agarrou na miúda, na bicicleta, e quando chegou àquela alfarrobeira, teve de parar que a bicicleta não andava. E então o pai…a miúda dizia para o pai:

     -Está ali a avó velha!, Está ali a avó velha!, e não queria ir para a escola.

 

E esse senhor, o pai, como não se queria crer nessas coisas diz para a miúda perguntar o que é que ela queria. E a avó velha, ou seja, a bisavó da mãe, disse:

     -Olha vaiam pagar à Nossa Senhora da Piedade, pão e azeite, porque eu prometi uma promessa e não paguei.

 

E então a miúda disse… a mãe da miúda disse às pessoas da família, que pertenciam à avó velha, para irem à Nossa Senhora da Piedade, levar pão e azeite aos pobres que estavam lá à porta da igreja.

 

E foram. A miúda daí para a frente já não via ninguém.

 

E eu acredito, porque a miúda andou muito doente, e os médicos não davam com a doença. E ela hoje já é uma senhora e é casada e tem filhos.

 

 

Fonte Biblio:  AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,

Ano: 2008 - Place of collection: -, FARO, FARO

Colector: Helder Macário (M) - Informante: Vitalina Pires dos Santos (F), 81 y.o., born at - (FARO) FARO,

Narrativa – When: XX Century - Crença: Unsure / Uncommitted

CEAO - Centro de Estudos Ataíde Oliveira

Foto: https://lifestyle.sapo.pt/casa-e-lazer/viagens-e-turismo/artigos/o-burro-nico-a-alfarrobeira-com-mil-anos-e-um-pao-com-muito-amor

 

29.01.21

Serra do Porto de Urso, Monte Real, Leiria @ Lendas de Portugal - A morte do urso

Miluem

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Igreja da Serra do Porto de Urso

 

A morte do urso

 

 

Estanciavam em Monte Real o rei D. Dinis e sua mulher a rainha Santa Isabel, talvez em tratamento das águas sulfuras que já ali havia e tão grande fama têm hoje. O Rei entretinha seus ócios percorrendo os campos matagosos em exercício venatórios.

 

Um dia D. Dinis saiu cedo e só, montando o seu fogoso cavalo, em busca de caça grossa.

 

Correu, correu, e, já longe, surgiu-lhe ao caminho um corpulento urso que, rápido e musculoso, derruba o Rei agarrando-o pela cintura e caindo-lhe em cima.

 

Nesta situação difícil, em que não podia mover-se, o Rei lembrou-se dos milagres que se atribuíam a S. Luís, Bispo de Tolosa, e ainda parente da Rainha Santa Isabel, sua mulher, e invoca a sua protecção.

 

De pronto aparece S. Luís que diz ao Rei para matar o urso com o punhal que tinha à cinta.

 

O Rei assim fez enterrando a lâmina no grosso corpo do pesado animal, que caiu, redondo, no chão, libertando D. Dinis da posição em que o tinha.

 

Rápido, o Rei levantou-se e montou no seu cavalo, correndo célere em direcção ao Paço onde estava a Rainha.

 

No caminho, porém, encontrou um lavrador e, parando, perguntou-lhe de onde era, ao que o bom do homem não sabendo a quem falava, respondeu:

 

     "Eu sou daquela aldeia, aqui da serra, onde fazem o comer para el-rei a quem Deus dê má sorte."

 

Estranhando tais desejos perguntou-lhe D. Dinis que lhe tinha feito el-rei para lhe desejar tanto mal, ao que o lavrador lhe respondeu:

 

     "Sempre vos digo, escudeiro, pois me pareceis homem de bem, que o oficial do Rei, encarregado do comer, me tomou à força uma vaca, três carneiros e quatro galinhas, sem nada pagar, dizendo que era para el-rei, que é Deus da terra, nem pagou coisa alguma que tomou na aldeia."

 

D. Dinis ao ouvir tais acusações convidou o lavrador a acompanhá-lo, o que ele fez convencido de que se tratava de um escudeiro.

 

Chegados a Monte Real o rei mandou pagar todas as despesas feitas com as gentes da terra e castigou severamente o oficial que tomara os gados e géneros do povo, sem pagar, para que servisse de exemplo aos outros oficiais.

 

O urso foi mandado passear pelas ruas de Monte Real, ao mesmo tempo que o milagre se espalhava por toda a região e se tornava conhecido o local da morte do urso por Serra de Porto do Urso.

 


(in Anais do Município de Leiria, João Cabral)

 

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As instalações são em Serra do Porto de Urso

 

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