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As coisas de que eu gosto! e as outras...

Bem-vind' ao meu espaço! Sou uma colectora de momentos e saberes.

As coisas de que eu gosto! e as outras...

17.12.20

Poemas de Natal * Natal de Manuel Alegre

Miluem

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Natal

 

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Era gente a correr pela música acima.

Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.

Guitarras guitarras. Ou talvez mar.

E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.

No teu ritmo nos teus ritos.

No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).

Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.

E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.

No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).

Todo o tempo num só tempo: andamento

de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.

Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva

acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva

na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.

Como se fosse na palavra a rosa brava

acontecia. E era Dezembro que floria.

Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.

E era na lava a rosa e a palavra.

Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

 

Manuel Alegre

em Poemas de Natal.

 

https://espalhafactos.com

Foto: http://incorporatemagazine.com

 

 

17.12.20

Monte Real, Leiria @ Lendas de Portugal - O Pajem Invejoso

Miluem

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O Pajem Invejoso


Era uma vez ... estavam D. Dinis e sua mulher, a Rainha Santa Isabel, a estanciar em Monte Real, o que faziam sempre que era possível.

 

Certo dia, foi o Rei galopar, campos fora, levando consigo um pagem que tinha inveja de um outro pajem que era muito valoroso e estimado.

 

Num abrandamento da corrida que fizeram o moço fidalgo invejoso disse ao rei que o outro pajem estava apaixonado pela Rainha.

 

O Rei Lavrador acreditou na palavra do seu acompanhante e vendo, donde estavam, um forno de cozer cal a arder com enormes labaredas, imediatamente combinou com o forneiro de que, no dia seguinte, um pajem o iria procurar e lhe diria que ia para cumprir as ordens do seu Rei e Senhor.

 

Logo que tais palavras dissesse o deitasse ao forno, pois que assim convinha ao seu serviço.

 

Mas ... como o nosso bom povo diz: "o homem põe e Deus dispõe."

 

O Rei mandou o pajem, vítima inocente da intriga do colega invejoso, ir ter com o forneiro.

 

Este pajem, porém, que além, de destemido e considerado, era um homem justo e temente a Deus, ao passar por uma capelinha onde se dizia missa entrou e cumpriu os preceitos de bom religioso. E ali se demorou um bom pedaço.

 

O pajem invejoso, ansiando por saber se as ordens do Rei já estavam cumpridas tão fielmente como haviam sido dadas, não teve mão na sua maldade e meteu a galope em direcção ao forno para saber se as ordens do Rei seu Senhor, estavam cumpridas.

 

Palavras não eram ditas e o forneiro e os seus ajudantes agarraram no pajem invejoso e ... forno com ele.

 

E assim morreu queimado um invejoso e intriguista.

 

(in Anais do Município de Leiria, João Cabral)

Foto: Pintrest