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As coisas de que eu gosto! e as outras...

Bem-vind' ao meu espaço! Sou uma colectora de momentos e saberes.

As coisas de que eu gosto! e as outras...

15.12.20

Batalha d'Aljubarrota - Gravura Biblioteca Nacional de Portugal

Miluem

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Batalha d'Aljubarrota [ Visual gráfico] / M. d'Almeida lith.

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Gravura do Domínio Público digitalizada pela Biblioteca Nacional Digital, o seu download é gratuito.

AUTOR(ES):     Almeida, M. de, fl. ca 1900; A Editora,impr.

PUBLICAÇÃO:   [Lisboa : s.n., 1903?] ( Lisboa : -- Lith. A Editora)

DESCR.FÍSICA:   1 gravura : litografia, color. ; 45,5x57,5 cm (imagem, sem letra)

NOTAS:   Brinde oferecido aos assinantes de "A ambição dum rei" -  Data provável por ocasião da publicação do romance assinalado

CDU:    355.48(469)Batalha de Aljubarrota(084.1) - 94(469)"1385"(084.1)

END. WWW:     

http://purl.pt/57

 

 

 

15.12.20

Contos de Natal » A prenda de Natal de Carlos Malheiro Dias

Miluem

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A prenda de Natal

 

 

— As argolas, mãe? — perguntou, do catrezinho de bancos, a voz estremunhada da criança, que acordara ao rangido da porta.

 

— Dorme; rapariga... Não ficas sem a consoada... O teu pai ainda não chegou da feira.

 

A criança voltou-se no catre, ficou com os olhos abertos, encolhida e emudecida, fitando o fogo da caruma, quase extinto no lar, onde requentava a ceia do Natal.

 

Acocorada na soleira da porta, a mãe, embrulhada num xale, está à espreita, atenta ao menor rumor que vem da estrada.

 

Já por duas vezes, com o ramalhar das carvalhas ao vento, ela pensou ouvir tropear ao longe a carruagem.

 

Não se enxerga um palmo na escuridão da noite de lua nova. Um mar de nuvens cobrira os céus, ao fim da tarde. Nem um luzeiro de estrela trespassa agora aquele negrume denso que enche os espaços e por onde o vento anda à solta, varejando as carvalheiras das bouças e assobiando nas agulhas dos pinhais como uma orquestra de flautas.

 

— Valha-me Deus! O que retêm lá por fora aquele homem, a estas horas da noite! — murmura a mulher, sucumbida.

 

— Ó mãe, não haveria argolas na feira e terá o pai ido por elas à vila...

 

— Dorme, rapariga! Amanhã já tens as argolas nas orelhas... Por ’mor delas desandou o teu pai, sozinho na égua, por essa serra, que mete medo!

 

Eram a consoada da filha. A colheita em pão e vinho fora de dar graças a Deus. Não havia a pequena de ficar sem as argolas por mais tempo.

 

Logo ao clarear da manhã, o Manuel da Eira selara a égua, entalara o varapau debaixo da coxa, lembrado da quadrilha de Redemoinhos, e pusera-se a caminho para a feira de Lanhoso, prometendo estar de volta ao amortecer do sol, para consoar.

 

Ainda a mulher advertira, receosa:

— Mete-te a caminho cedo. Toma tento com a ladroagem de Redemoinhos!

 

E o Manuel da Eira, destemido, voltara-se no selim:

— Hoje é o dia em que nasceu o Salvador. Os ladrões também são gente cristã!

 

E picando a égua com a espora, abalara, afoito, pela estrada.

 

Já ao longe, na igreja da freguesia, os sinos tinham tocado para a missa do galo. 

 

Rajadas mais fortes de vento enchiam os céus de um burburinho sibilante e agitavam no alpendre os sarmentos das vides ainda por podar.

 

Súbito, a criança e a mãe erguem-se no catre e no poial da porta.

 

Uma voz chama, de entre o negrume da noite:

— Ó Maria da Eira!

 

Sobre as traves, o vento parece que arrasta as telhas. Na corte, os porcos grunhem. Uma nuvem de cinzas ergue-se e rodopia no lar, sobre a caruma.

 

Sem pinga de sangue, a mulher grita, numa ansiedade aflita, empurrando a cancela:

 

— Quem me chama?

 

E entre o rumor do vento distingue a tropeada da égua, os passos vagarosos de dois homens.

 

— Traga a candeia... — diz a voz, na estrada.

 

A criança está já fora do catre, à espera das argolas, esfregando nas costas da mão os olhos piscos de sono.

 

Tropeçando na saia, a mulher desengancha a candeia da parede, e à luz mortiça, saindo ao terreiro, vê o seu homem, trazido a braços, como morto. 

 

Atrás do grupo fúnebre avança a égua trôpega.

 

Os homens param. O da frente, encarando com o desatino da mulher, resmoneia, esbaforido:

 

— Tome conta na luz! Não vamos agora aqui ficar neste negrume! O seu homem vem vivo.

 

Só então ela parece acordar do seu doloroso espanto e soluça, erguendo para o céu ventoso os braços, deixando fugir o xale.

 

— Nossa Senhora! Divino amor de Deus, que estou desgraçada!

 

— Cale-se, mulher! Derreados vimos nós com este peso! Demos com ele numa vala, caído ao pé da égua. Foi pancada que lhe atiraram à falsa fé para o roubar.

 

Em altos gritos, ela empurra a porta, ajuda a deitar o seu homem no catre. 

 

A criança soluça, refugiada a um canto, sufocada pelo medo, e enquanto a mulher rasga, com a violência do terror, uma camisa de linho para ligaduras, os dois homens lavam as mãos ensanguentadas num alguidar e atiçam o lume da lareira com um graveto de tojo.

 

Debalde a mulher agora esparge de vinagre o rosto desfigurado do ferido. 

 

Com o braço pendente e as unhas cravadas na palma da mão direita, enlameado e lívido, o Manuel da Eira parece morto, estendido no catre.

 

— Ele já não tem vida! — clama, num alarido de lágrimas, a viúva, desanimando de abrir aquela mão crispada de defunto.

 

Os homens deixam de atiçar o braseiro, amparam-na e erguem-na do chão, onde ela se deixou cair desanimada, arrancando os cabelos, com um escarcéu de gritos e soluços.

 

— Os mortos não fecham as mãos.

Isto é coisa que ele tem escondida.

 

Então, novamente, reconfortada por uma última esperança, ela se esforça, mais do que em estancar o sangue das feridas, em abrir o punho obstinadamente  fechado  do  seu homem.

 

Mas desfalece depressa e de novo abate, com a voz estrangulada de soluços maiores.

 

Por sua vez, os dois homens tentam, inutilmente, desunir da palma sangrenta os dedos inflexíveis.

 

— Pai, abre a mão! — geme também a criança, aterrada e aflita.

 

As suas mãozinhas molhadas de lágrimas imaginam ter a força, que aos outros falta, para despegar aquela garra.

 

— Abre a mão, pai!

 

E de repente, obedecendo à vozita implorante, a mão abre-se e duas argolas de ouro, pequeninas, aparecem, reluzem e tilintam no soalho.

 

Carlos Malheiro Dias

 

Fonte: Cancioneiro Transmontano 2005
Edição: Santa Casa da Misericórdia de Bragança

Foto: https://pt.wikipedia.org

 

15.12.20

Alcobaça e Vestiaria @ Lendas de Portugal - Lenda de Pedro e Inês

Miluem

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Lenda de Pedro e Inês

 

A trágica história de D. Pedro e D. Inês inspirou poetas, escritores e compositores em Portugal e no estrangeiro. Camões foi um dos primeiros escritores a celebrar a lenda, em "Os Lusíadas".

 

Tudo começou com o casamento de D. Pedro com uma princesa espanhola, D. Constança. Não existia amor entre os dois, uma vez que o casamento foi arranjado pelos pais. Foi nessa altura que D. Pedro conheceu D. Inês de Castro, uma das aias (dama de companhia) de D. Constança, por quem se apaixonou.

 

Esta ligação amorosa não foi nada bem vinda. Todos tinham medo que D. Inês, filha de um poderoso nobre espanhol, pudesse ter má influência sobre o príncipe. Assim, quando D. Constança morreu, D. Afonso continuou a condenar o namoro dos dois apaixonados.

 

De início, D. Afonso tentou afastá-los, proibindo D. Inês de viver em Portugal. Mas isto não resultou porque os dois pombinhos foram morar para a fronteira de Portugal e Espanha e continuavam a encontrar-se. Diz-se que se casaram nesta altura, mas ninguém sabe de certeza.

 

O rei estava muito preocupado porque via que o povo tinha medo da influência de D. Inês, além do mais não estava nada contente com as guerras e a fome que se viviam no reino. Assim se explica a decisão de D. Afonso IV de condenar D. Inês de Castro à morte, influenciado por dois conselheiros.

 

Depois da execução de D. Inês de Castro, D. Pedro revoltou-se contra o pai e declarou-lhe guerra. Felizmente, a paz voltou graças à rainha-mãe, que evitou o encontro militar entre pai e filho.

 

Quando D. Pedro subiu ao trono, era muito cuidadoso com o povo, que gostava bastante dele. Mas uma das primeiras coisas que fez foi vingar a morte de D. Inês de Castro executada de modo cruel, aos ex-conselheiros do pai, mandou arrancar-lhes o coração! Dizia que era assim que se sentia desde que D. Inês tinha morrido.

 

O mais sinistro de toda a história é que D. Pedro elevou D. Inês de Castro a rainha já depois de morta e obrigou toda a corte a beijar-lhe a mão, ou o que restava dela (porque D. Inês já tinha morrido há dois anos).

 

Mandou depois construir no mosteiro de Alcobaça, um belo túmulo para D. Inês de Castro. Mesmo em frente mandou construir o seu, onde foi enterrado em 1367. Diz-se que estão nesta posição para que, quando acordarem no dia do Juízo Final, olhem imediatamente um para o outro.

 

(Fonte: Arquivo Português de Lendas)


http://www.jf-alcobacaevestiaria.pt

Foto: https://fundacaoinesdecastro.com