Casa de Camilo
A estrada levou-me até São Miguel de Seide, uma Aldeia pertencente ao Concelho de Vila Nova de Famalicão, onde existe uma Quinta muito conhecida, a Casa de Camilo.
Trata-se da Casa e Museu do Poeta e Escritor Camilo Castelo Branco, não passei dentro do horário de funcionamento, logo só tenho fotos do seu exterior. (http://www.camilocastelobranco.org)
A Aldeia estava toda enfeitada de amarelo (as cores de Camilo, como se diz por lá) porque estava na altura das Festas de São Miguel Arcanjo.
Disseram-me que o local onde se vêem as portadas de madeira e os bancos de pedra, no jardim junto à parede, era um dos preferidos de Camilo Castelo Branco para escrever quando se encontrava na Quinta e o tempo o permitia, não sei dizer se é realidade ou lenda.
Fica aqui uma sugestão de visita para quem mora por aquelas bandas ou para quem por lá passe.
Foto: https://arquivos.rtp.pt
Este Amor Infinito e Imaculado
Querida, o teu viver era um letargo,
Nenhuma aspiração te atormentava;
Afeita já do jugo ao duro cargo,
Teu peito nem sequer desafogava.
Fui eu que te apontei um mundo largo
De novas sensações; teu peito ansiava
Ouvindo-me contar entre caricias,
Do livre e ardente amor tantas delicias!
Não te mentia, não. Sentiste-o, filha,
Esse amor infinito e imaculado,
Estrela maga que incessante brilha
Da alma pura ao casto amor sagrado;
Afecto nobre que jamais partilha
O coracão de vícios ulcerado.
Não sentes, nem recordas, já sequer?
Quem deste amor te despenhou, mulher ?
Eu não! Se muitos crimes me desluzem,
Se pôde transviar-me o seu encanto,
Ao menos uma só não me recusem,
Uma virtude só: amar-te tanto!
Embora injúrias contra mim se cruzem,
Cuspindo insultos neste amor tão santo,
Diz tu quem fui, quem sou, e se é verdade
O opróbrio aviltador da sociedade.
Camilo Castelo Branco, in 'Poema dedicado a Ana Plácido (1857)'
Foto: http://www.porto.pt
A maior dor humana
Que imensas agonias se formaram
Sob os olhos de Deus! Sinistra hora
Em que o homem surgiu! Que negra aurora,
Que amargas condições o escravizaram!
As mãos, que um filho amado amortalharam,
Erguidas buscam Deus. A Fé implora…
E o céu que respondeu? As mãos baixaram
Para abraçar a filha morta agora.
Depois, um pai que em trevas vai sonhando,
E apalpa as sombras deles onde os viu
Nascer, florir, morrer!... Desastre infando!
Ao teu abismo, pai, não vão confortos…
És coração que a dor empederniu,
Sepulcro vivo de dois filhos mortos.
Camilo Castelo Branco, Nas trevas. – Lisboa : Tavares Cardoso & Irmão, 1890.
(Na morte quase simultânea dos dois filhos únicos de Teófilo Braga)
Fonte: Município de Vila Real - Grafia actualizada