Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

As coisas de que eu gosto! e as outras...

Bem-vind' ao meu espaço! Sou uma colectora de momentos e saberes.

As coisas de que eu gosto! e as outras...

08.10.19

Leiria @ Lendas de Portugal - O Bodo do pão e queijo

Miluem

10397013_1528265800728298_5315037344347695459_o.jp

Terreiro - Pintura de Guilherme Correira

https://www.e-cultura.sapo.pt//artigo/457

 

O Bodo do pão e queijo


Era uma vez ... ali no Terreiro, que depois veio a chamar-se "Terreiro do Pão e Queijo" e hoje é o Largo Cândido Reis, mas mais conhecido pela antiga denominação de "Terreiro", havia uma mulher que tinha uma venda.

Um dia, tocada pela ganância de maiores lucros e menores trabalhos, a taberneira foi-se a um poço que tinha na sua casa e dele tirou a água com que baptizou o vinho que tinha para vender aos seus fregueses, sem saber que a água era salgada.

E fez isto uma vez, e outra vez, mais algumas vezes sem que ninguém descobrisse a trapaça da vendedeira.

Mas, como diz o nosso povo: "O homem cobre e Deus descobre."

Assim foi também desta vez, pois um belo dia os fregueses começaram a perceber que o vinho estava salgado, o que muito entristeceu a mulher que de pronto mandou tapar o poço.

A taberneira, que era boa mulher, deu de se arrepender da sua boa acção e fez logo testamento legando todos os seus haveres à Confraria do Espírito Santo, de Leiria, com a condição de com o seu rendimento dar, todos os anos no 1º de Maio, aos pobres da cidade, um bodo de pão e queijo.

E assim se fez durante muitos e muitos anos, até que os confrades se esqueceram da obrigação que aquele legado lhes impunha, empregando tais rendimentos em despesas que não obedeciam à intenção da testadora.

Uma vez, o Bispo Dom Dinis de Melo, tomou conhecimento e ordenou, por provisão de Abril de 1632, que o pão amaçado e o queijo comprado se dividisse em três quinhões e se distribuíssem, um para os pobres, outro para os pobres envergonhados e o terceiro para os pobres que ocorressem à casa onde era hábito dar o bodo.

Aquela provisão bispal foi confirmada por outra de D. Pedro Barbosa, também Bispo da Diocese de Leiria, datada de Abril de 1637.

Depois da morte da vendedeira o dono da casa, Manuel de Campos, mandou atulhar o poço.

No último quartel do século passado a Rua do Pão e Queijo, onde estava situada a venda e até onde chegava o Terreiro em tempos passados, mudou o nome, assim se esquecendo uma designação que era secular e criada pelo poço.

 

(in Anais do Município de Leiria, João Cabral)

 

13315681_1810134309208111_9148502461321352246_n.jp

Fotografia do Terreiro, ao fundo o Castelo de Leiria antes da sua reconstrução sob a direção do  Arquiteto Ernesto Korrodi.

 

Notas:

-  As fotografias foram retiradas da internet.

-  Já as guardo há alguns anos e na altura não tirei a referência ao local onde as recolhi.

- Se alguém se sentir lesado, agradeço que me contacte pelo mail que está no meu perfil e eu retirarei as imagens de imediato.