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As coisas de que eu gosto! e as outras...

Bem-vind' ao meu espaço! Sou uma colectora de momentos e saberes.

As coisas de que eu gosto! e as outras...

27.08.19

Ditos e Ditados Populares @ CIII

Miluem

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500 provérbios portugueses antigos - Educação moral, mentalidade e linguagem - de Jean Lauand

 

Estudo e recolha com base no Livro de provérbios de Antonio Delicado

 

Na Biblioteca Municipal Mário de Andrade (São Paulo-Brasil), encontra-se uma raridade: um exemplar original do livro do lecenciado prior Antonio Delicado, Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs, Lisboa, Officina de Domingos Lopes Rosa, 1651.

 

 

27.08.19

Carregal do Sal @ Lendas de Portugal - Origem da silva

Miluem

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Origem da silva


Nosso Senhor chegou a uma localidade e  vinha com sede.

Os habitantes da terra, vaidosos, deram vinho e Ele gostou muito.

Jesus Cristo disse: Que rica bebida!

   - Vão-me buscar a planta que deu esta bebida.

As pessoas começaram a desconfiar que Ele era capaz de fazer mal.

Então levaram-Lhe uma estaca de silva.

E Ele abençoou a silva e disse:

    - Abençoada sejas tu que pegues pelo toro e pela ponta.

E hoje as silvas estendem-se um pouco e pegam logo pela ponta.

Fonte Biblio: AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,NAno: 2009
Place of collection: Beijós, CARREGAL DO SAL, VISEU
Colector: Ana Abrantes (F)
Informante: José Alberto (M), 70 y.o., born at Beijós (CARREGAL DO SAL) VISEU, Narrativa
When: XX Century, Crença: Unsure / Uncommitted.

CeAo Centro de Estudos Ataíde Oliveira

26.08.19

Tavira @ Lendas de Portugal - A lenda de Tavira

Miluem

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Foto: http://www.cm-tavira.pt

A lenda de Tavira



    Diz a lenda mais antiga
    Das lendas que eu cá conheço,
    Que uma moita rapariga
    De olhar brilhante e travesso,


    Que por nome era Taah Billa
    E morava ali bem perto
    Da ria verde e tranquila,
    Tão longe do seu deserto


    De onde seu pai a trouxera...
    Morava, dizia a lenda,
    Como irmã da Primavera,
    Num palácio de oiro e renda.


    Eram os muros talhados
    Em puro e louro metal,
    Tão perfeitos, trabalhados
    De maneira original,


    Que quem p’ra eles olhava,
    Não sendo filho de Allah,
    Não mais vivo ali ficava,
    Para não ficar por lá.


    Iam príncipes cristãos,
    Cítaras dadas ao vento,
    À moira pedir as mãos
    Em sinal de casamento.


    Mas o pai, Alli Maommede,
    De armas valente caudilho,
    Todos matava de sede,
    Que a nenhum qu’ria por filho.
     

    Choravam, então, as luas,
    Os astros, os outros sóis,
    Por verem mortas e fluas
    As carnes de tantos heróis.


    E Taah Billa, a pobre moira,
    Moira de tanto encantar,
    Perdeu sua trança loira,
    Começou a definhar.


    Por cada moço cristão
    Que seu pai ali matava,
    Pedia ela a Allah perdão,
    Dizia ser d’Ele escrava.


    De cada morto nasciam
    Amendoeiras sempre em flor,
    Que aos verdes campos traziam
    Outro encanto bem maior.


    Mas à princesa agarena
    Falava o pai, duro e forte:
    — “Tu de mim não hajas pena,
     “Mesmo que te mate a morte.
     

    “Nenhum cristão pode vir
    “Aos muros deste palácio...
    “Nem hoje, nem ao fulgir
    “De algum astro violáceo.
     

    E a princesa morria.
    Não era quem dantes fora,
    Que mesmo à luz do seu dia,
    Era a noite a sua aurora.


    Alli Maommede mandava
    Vir de outras terras do Islão
    Algum califa a quem dava,
    Da filha, a pálida mão.


    Pálida, que todo o sangue,
    Há muito, dela fugira.
    Já o seu corpo era langue,
    Morto, p’lo pai, com tal ira.


    Porém, por tudo ou por nada,
    Nenhum moiro lá chegava,
    E a linda moira, coitada,
    Definhava, definhava.


    Mas uma vez.., uma vez,
    Sobreveio ali passar
    Um valente português,
    Filho da terra e do mar.


    Era poeta e cantava
    Seus versos feitos de amor;
    Se a lua, ao longe, escutava,
    O luar era maior.


    “Vem, Taah Billa moira, vem
    “Do teu palácio encantado
    “A meus braços, que, também,
    “Te darei outro em dobrado.


    “Vem, mulher enamorada,
    “Té junto do coração;
    “Como vês, não custa nada
    “Esculpir-te uma canção.


    Já Taah Billa revivia
    Ao rumor desta cantata
    E um alaúde trazia,
    Pelas suas mãos de prata.


    Do alto do seu castelo
    Logo a moira respondeu
    Com uni canto doce e belo,
    Com voz que vinha do céu:


    ‘Vivo tão triste de mim,
    “Tão dos meus já separada,
    “Que vejo em breve o meu fim,
    “Se não for de aqui levada.
     

    “É, por isso, anjo do céu,
    ‘Que te peço que me tires
    “Deste palácio que é meu,
    “E, parto, se tu partires.


    O cavaleiro, perdida
    A razão de ser prudente,
    Logo ali lhe deu a vida
    Pia vida dela somente.
     

    E convidou-a a partir
    Por essa noite de prata,
    Por caminhos de seguir
    À luz duma serenata.


    Mal um passo era já dado,
    Na carreira prometida,
    Desígnio triste do fado
    Aos dois lhes mudou a vida.
     

    Foi o caso que apar’ceu,
    Vindo não se sabe donde,
    Talvez caído do céu
    Por nele não ter avonde,


    O pai da moira princesa,
    Que de pronto acometeu,
    Com vigor e com rudeza
    O cristão que prometeu


    Defender a sua amada...
    E logo ali trespassou,
    Co’uma valente estocada,
    O moiro que se finou.


    “Já livres somos, Taah Billa...
    “Podemos, livres, partir...
    E na sua voz tranquila
    Há trinados a sorrir.


    “Vamos, pois, meu bom Senhor...
    “Toda a minha vida é tua...
    Nascia neles amor,
    Ao longe brilhava a lua.


    Tudo, agora, parecia
    Que iria acabar em bem,
    Pois a princesa sorria,
    Sorria o cristão... Porém...


    É a lenda que me conta,
    A lenda que tudo diz,
    Que depois daquela afronta
    Nenhum deles foi feliz.


    Pois Allah, que tudo ouvira,
    Aos dois ali decretou
    Que mataria a mentira
    Dum amor que não gerou.


    E, num momento vazio,
    Pronto desfê-los no ar,
    Pra ser um... água do rio,
    E ser o outro... água do mar.


    A partir desse momento
    O Gilão, sempre a chorar
    E a correr em passo lento,
    Tem caminhado pró mar…
     

    E até os sóis verdadeiros
    E a lua ao longe, tranquila,
    Perguntavam, viajeiros:
    Tabilla, aonde és, Tabilla?


     
    * *

    Foi assim que o Povo ouviu,
    Das gerações, essa voz
    Que uma à outra a transmitiu
    E mora dentro de nós.


    Inda mais me diz a lenda,
    Que é verdade e não mentira,
    Que o lugar, como legenda,
    Houve por nome TAVIRA.



Fonte Biblio: LOPES, Morais Algarve: as Moiras Encantadas s/l, Edição do Autor, 1995 , p.120-127
Place of collection:  Tavira (Santa Maria), TAVIRA, FARO
Narrativa, When: XX Century, 80s, Crença: Unsure / Uncommitted
Centro de Estudos Ataíde Oliveira